domingo, 19 de junho de 2011

Avaliação Cabos de Vela Nika 10mm

A procura de um bom tema para continuar a blogar sobre buggy veio à inspiração esse final de semana na oportunidade da troca do meu jogo de cabos de velas. Este componente de vital importância para o funcionamento do motor muitas vezes é negligenciado e tratado com rispidez pelos motoristas e mecânicos em geral. É provável que se soubessem que um maior cuidado com essa peça poderia reduzir significativamente os problemas de falhamento e perda de rendimento do motor relativos ao sistema de ignição teriam mais respeito.

Nesta postagem vou me dedicar aos cabos de vela da Nika, fabricante nacional de cabos de ignição especiais para todas as linhas automotivas. A Nika possui referência a um site na caixa do produto (www.nikacabos.com.br) que estava fora do ar no momento que escrevia esta postagem.

Já é o segundo jogo que possuo e vale salientar que a troca do primeiro deu-se apenas pela mudança do sistema de ignição do Furacão Dunas, que passou do TSZ-I (Indutivo) para ou TZ-H (Hall). Como a tampa nova é de terminal pinado, foi necessária a troca dos cabos antigos que eram de terminal de encaixe.

Inicialmente temos que considerar quais os parâmetros que cercam os cabos de ignição de qualidade e posteriormente falar dos principais problemas que concorrem para o seu mau funcionamento. Na seqüência vou procurar abordar os prós e os contras dos cabos Nika em questão expondo seus pontos negativos e positivos na minha visão particular de consumidor.

A principal característica de um bom cabo sem sombra de dúvidas é o isolamento elétrico. Cabos de ignição modernos devem suportar a condução de elevadas tensões, que chegam a ordem de 30KV, ou seja, trinta mil volts. Essa tarefa não é fácil, tendo em vista que os motores submetem os valentes cabos a severas condições de trabalho. Variações de temperaturas extremas, óleos, combustíveis, umidade, poeira, vibração, dentre outras. Essa resenha mereceria até uma história em quadrinhos da Marvel Comics. Quem sabe “o Quinteto Fantástico”, ou “Os X-Cables” (parece coisa de nerd, mas buggy é ciência também =D).

Resistência a corrosão, ressecamento e variações de temperatura são também outras propriedades muito desejadas nos cabos, uma vez que o motor será alvo de todas as adversidades citadas aqui.

Outra característica marcante é a capacidade de supressão de ruídos produzidos pela intermitência do chaveamento da alta tensão que ocorre várias vezes por minuto. A liberação das descargas de alta tensão no motor produzem um forte e instantâneo campo magnético que se irradia na forma de uma onda eletromagnética que produz ruído na instalação elétrica do carro. Portanto, é comum que com o motor ligado, a maioria dos motoristas possa ouvir no som ou no rádio amador um roncado de fundo que altera o timbre com a rotação do motor.

Para evitar esse problema ou ao menos minimizá-lo os cabos de vela modernos possuem resistores supressivos nos seus terminas ou até mesmo sua veia condutora é composta de material resistivo. Um fato importante e também negligenciado pela maioria é que as bobinas de alta tensão modernas, sobretudo às plásticas, precisam do uso desse cabo supressor necessariamente, uma vez que o seu não uso poderá reduzir a vida útil da peça ou até mesmo fundir os eletrodos das velas devido ao excesso de corrente liberada pela bobina.

Referente à capacidade de isolação, para termos um parâmetro de avaliação, sabe-se que o ar é um excelente material isolante. Porém há variações no seu potencial dielétrico conforme a sua composição. Na beira de praia, por exemplo, a resistência do ar é muitas vezes menor que no interior do continente devido a alta umidade relativa e a presença de sais em suspensão que fornecem íons livres para condução de corrente elétrica com facilidade. E é nesse ambiente é justamente onde vamos buguear no fim de semana. Como parâmetro, é necessário aproximadamente um espaço de 10 mm de ar para evitar a formação de um arco voltaico entre dois eletrodos submetidos a uma tensão de 15KV em média. Considerando que as voltagens a que são submetidos os cabos de ignição são maiores que o exemplo, isso só reforça sua missão quase impossível. Trocando em miúdos concluímos que de uma forma geral o cabo precisa em todas as condições de funcionamento oferecer em seu comprimento total uma resistência maior que a folga (gap) das velas, senão a corrente que não é besta tenderá a fugir pelo ponto mais fraco do circuito.

Neste caso o diâmetro do isolante dos cabos entra em cena como um fator determinante no seu desempenho. Quanto mais grosso o isolador, maior a capacidade de isolação do cabo e menores vão ser as ocorrências de fugas de corrente. Considerando cabos com diâmetro de 10 milímetros, vale salientar que sua barreira útil de isolação entre o veio condutor e o ambiente é de apenas 5 milímetros. Quando expostos a condições de umidade elevadas, a capacidade de isolação dos cabos tende a diminuir . Havendo vazamento de corrente neste componente, teremos a falha da ignição na vela, e conseqüentemente sentiremos um corte na aceleração, o que causa perda de potência. Portanto, uma isolação extra será de bom tamanho ao transpor obstáculos aquáticos tais como rios, lagoas e alagamentos.

Bem, vamos agora aos fatos. Será que os cabos propostos valem o custo benefício? Será que passaram no teste nas trilhas do BCRN? Vou procurar expor seus pontos fortes e fracos de forma imparcial e deixar você bugueiro de plantão tirar sua conclusão.

A impressão ao abrir a caixa é muito boa. Os cabos tem um ótimo acabamento e sua espessura impressiona quem é acostumado com os cabos originais do carro (geralmente de 6 a 8 milímetros). O cheiro do silicone é bastante forte e enjoado, mas nada que atrapalhe o andamento das coisas. Vem também um termo de garantia constando noventa dias ou 5 mil quilômetros, o que achei pouco por sinal.

O veio desse cabo não usa cobre como condutor. O núcleo é composto por fibra de vidro revestida com uma borracha especial de silicone condutiva. O material produz uma resistência inerente de aproximadamente 5KOhm/Metro, o que o torna devidamente enquadrado na categoria de cabos supressivos. Um ponto fraco nessa questão é que isso exigirá muito mais cuidado do seu mecânico, pois um repuxo de forma errada quebrará o veio condutor do cabo. Esse tipo de cabo em geral tem má fama entre os mecânicos, que preferem trabalhar com os de cobre. Muitos deles dizem que o cabo é de má qualidade e pedem pra o cliente trocar por um de cobre que é melhor, dura mais, e "resolve o problema". Resolve o problema dele, do mecânico, pra ele ganhar o dinheiro dele rapidinho, mas condena os cabos que são inocentes e de boa qualidade. Não sabendo o cliente muitas vezes é que o cabo era bom e foi danificado pelo mecânico.

As capas isolantes dos terminais são grossas (3mm) e moldadas em silicone resistente a altas temperaturas. Elas são muito justas tanto no cabo quanto nas velas fazendo sempre um “ploc” quando são sacadas. Esse tipo de cabo tem que ser manuseado com cuidado principalmente na hora de plugar e retirar do sistema. A remoção é mais bem feita puxando o cabo pelo plugue com uma mão e ajudando com o polegar da outra, forçando de baixo para cima. Mesmo assim nos cabos de encaixe algumas vezes ao remover ocorreu de o terminal se soltar do cabo e ser preciso refazer a conexão. Nos cabos pinados os terminais são mais resistentes e esse problema não ocorreu.

Por serem tão justos e robustos seus plugues o cabo é praticamente a prova d´agua evitando em 100% a formação do “flashover”, aquelas faíscas que escapam do terminal correndo sobre as velas ou a tampa do distribuidor quando se molha o motor. Depois de vários meses de uso, fui sacar os cabos pra examinar o distribuidor e os contatos de cobre ainda estavam novos, com aspecto brilhoso e sem nada de corrosão, mesmo depois de várias trilhas e lavagens. Outro ponto forte é que mesmo depois de certo uso o silicone dos terminais das velas, que são os que trabalham em alta temperatura, permaneciam flexíveis e com aspecto excelente. Sinal que o silicone usado nos cabos é de boa qualidade.

Porém, um ponto negativo para linha VW Ar é a ausência dos defletores de ar da carcaça nos terminais das velas. Sem os defletores praticamente todo ar soprado para resfriar os cilindros se perde prejudicando e muito a ventilação do motor. Neste caso o problema foi resolvido removendo os defletores dos cabos antigos e instalando nos novos cabos. Fica uma dica para o fabricante cuidar desse detalhe da próxima vez.

No teste de água o cabo se comporta muito bem. Meu buggy falhava bastante na água com o jogo de cabos de encaixe antigos sanando o problema de imediato com a instalação dos cabos da Nika. Não me lembro na verdade de nenhum incidente com água pós-instalação que tenha me feito ficar no prego. Inclusive, fiz vários testes nas lavagens, onde ligava o motor e jogava o jato do compressor em cima do distribuidor sem o motor apagar. Sempre o conjunto se saia bem mesmo com distribuidor com impulsor tradicional.

Na rodagem nota-se uma diminuição dos falhamentos durantes as acelerações em baixa rotação. Se há uma melhora no rendimento do motor, sinceramente é muito pouco significativa para se mensurar. Porém, no buggy o que faz um bom carro é a soma do conjunto. Um pouquinho de melhora no cabo, mais um pouquinho de trabalho na carburação, suspensão, vai juntando os pouquinhos, no final você está com uma máquina de subir duna.

Em termos de estética os cabos são muito chamativos. Principalmente se a carenagens do motor forem de cores diferentes. É um daqueles acessórios para você deixar a tampa do motor aberta nas demonstrações. O único ponto negativo nesse fato é que devido a espessura o cabo é difícil de dobrar e não encaixa nas presilhas originais da carcaça. Isso dificulta a organização da fiação do motor lhe dando um aspecto meio desleixado.

Referente a durabilidade mostro-se muito boa. Os cabos que tirei, mesmo depois de certo uso estavam com um aspecto muito bom. No entanto notei um problema logo nos primeiros dias de uso. Como o material do isolante é muito macio, ele se desgasta facilmente com o atrito do cabo com as peças do motor. Podendo chegar o ponto de o cabo quebrar se o bugueiro não prestar atenção a esse fato. O ideal é presilhar o cabo por toda parte evitando que ele raspe nas partes do motor, principalmente nos motores de dupla carburação.

No mais, espero que esta postagem seja útil para amigos bugueiros que queiram no futuro incrementar seus possantes com novidades no sistema de ignição. Um abraço e vamos bugueando pessoal!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

LIMPEZA DE CARBURADORES: O MITO!

Muito tempo sem escrever hã!? Pois é! Meti a cara no trabalho. Tempo, tempo, tempo. Mas estamos de volta, e com muitas novidades. E vamos bugueando!

Grande reforma no Odisséia Dunas. Opa, opa, opa! Pára, pára! Odisséia Dunas, como é? É parceiro, tá sendo mesmo durante todos esses anos. E Que jornada!

Descobri que Buggy é cultura também, quem diria!? Buggy é escola de mecânica intensiva, laboratório de química, física e matemática. Buggy é design gráfico e projetos. Buggy é adaptações, é carro de todas as marcas, de todas as peças e de todos os macetes. Buggy é odisséia sim pra aqueles que gostam e entendem sua mensagem, se deixam levar e entram no clima.

Reforma no motor, pintura de carenagens. Bom! Carburadores sujos, precisando de revisão. Não se pode imaginar um momento melhor pra uma experiência científica, hã!? Pois é! Falando de limpeza de carburação, qual o melhor produto? O que limpa mais afinal? A equipe do Odisséia Dunas resolveu testar aqui dois produtos para a limpeza do carburador indicados por vários mecânicos, colegas e internautas por aí a fora. Não postamos aqui o resultado de testes com gasolina ou mesmo thiner 101, por achar que estes por serem ordinários e usados por todos no dia a dia já têm seus efeitos conhecidos pela maioria dos bugueiros de plantão. Vamos aqui focar no desconhecido. Uma bela surpresa aguarda o final dessa história. O que será?

Dentre os produtos verificados se encontram:

a creolina, composto químico anteriormente muito usado para limpeza e desinfecção hospitalar pela sua eficácia contra certos tipos de bactérias resistentes a desinfetantes comuns. A creolina nada mais é do que um composto da família dos Cresóis. Os cresóis são um grupo de compostos químicos fenólicos manufaturados que também ocorrem normalmente no meio ambiente. São muito usados na indústria também para diluição de desodorantes e inseticidas. São altamente tóxicos, podendo causar em exposições elevadas e prolongadas vômitos e dores abdominais; danos ao coração, fígado e rins; anemia; paralisia facial, coma e morte. Ufa! Cuidado! A eficácia esperada da creolina é a diluição acentuada dos óleos que aderem as paredes do carburador. Devido à geometria de sua molécula, os creosóis funcionam como excelentes diluentes para óleos e gorduras em geral. É possível comprar creosóis em supermercados em geral, onde se verificam duas marcas mais populares, a CREOLINA e o CREOVALIM. O custo médio de 500mL é de cerca de R$ 10,00.

o vinagre de álcool doméstico, composto obtido pela fermentação de carboidratos, cujo produto principal obtido é uma concentração de ácido acético. O ácido acético ou ácido etanóico é conhecido por ser um ácido fraco, corrosivo, com vapores que causam irritação nos olhos, ardor no nariz e garganta e congestão pulmonar. É corrosivo para alguns tipos de metais e muito usado na indústria química em geral na produção de vários materiais, dentre eles o PET. O custo médio do vinagre 500mL é de cerca de R$ 1,70.

Pois bem! O ensaio foi composto de uma tampa e um corpo de carburador solex H-30 PIC, parado a algum tempo e vítima da sujeira e ação do tempo. O objetivo era submeter o corpo do carburador ao molho nas duas substâncias por 30min, sendo logo em seguida o carburador lavado com sabão e água corrente para avaliação dos resultados.

Depositamos o corpo na creolina em um recipiente de forma a submergir toda peça, ao mesmo tempo em que submetemos ao vinagre a tampa do carburador nas mesmas condições pelo mesmo período de tempo.

Os resultados foram surpreendentes. Poucos minutos após a submersão das peças notava-se micro bolhas sendo formadas na tampa do carburador que estava no vinagre. Após 15 minutos a solução fervilhava e exalava um cheiro forte de vinagre. Curiosamente na creolina aparentemente não ocorria visualmente nenhuma reação.


Ao término do molho, lavagem das peças, e....nossa! Que surpresa! Para ser sincero, pela característica dos creosóis e sua toxidade, achávamos que os resultados seriam mais satisfatórios. No entanto, mostrou-se na verdade menos eficiente que a gasolina. Após a lavagem da peça ainda persistiam manchas de óleo e sujeira em diversas partes incrustadas. Eu nossa opinião o desempenho não foi satisfatório.

Mas referente ao vinagre quanta diferença! Após a lavagem da peça havia desaparecido todos os indícios de óleos e graxas, bem como manchas e pontos de oxidação (aquela goma branca incrustada na peça). O que é mais impressionante na verdade é a facilidade com que a sujeira se solta durante a lavagem. Incrivelmente prático e eficiente. Porém, nota-se visivelmente que o ácido acético causa naturalmente uma leve corrosão do material. Literalmente a peça dilui-se e o metal fica incrustado nos dedos do bugueiro, no entanto numa proporção muito leve.

Finalizando o experimento, não estamos aqui para ditar qual a substância correta, e sim a mais eficiente. Nosso objetivo era quebrar o mito e por a prova os ditos populares, e acreditamos que conseguimos finalmente.

Concluímos com o experimento que o vinagre é muito eficiente mesmo para limpeza, tendo o inconveniente de ser corrosivo ao material, mas justamente por esse motivo, limpa profundamente sua superfície, arrastando quimicamente toda sujeira da peça, inclusive oxidações. Entendemos no entanto que apesar do inconveniente da corrosão, se usada de forma moderada, e levando em conta que o mesmo será raramente usado na peça, é provável que o próprio carburador se desgaste pelo uso natural do que diluído no vinagre. Eu usei nos carburas do odisséia e pessoalmente, usaria novamente tomando o cuidado de controlar o tempo do molho que não deve ser longo, sendo de 30min para limpezas leves até algumas horas para carburadores mais avariados.

Já o creosol é uma substância extremamente desagradável de se manipular. Tem um cheiro muito ríspido e penetrante que demora uns dois dias para desaparecer caso entre em contato com a pele. Custa cinco vezes mais o litro em relação ao vinagre, e diferente do vinagre, no lugar de abrir o apetite provoca náuseas se inalado por longos períodos. O desempenho do creosol de fato foi decepcionante. Sinceramente, obtive melhores resultados com a gasolina e o thiner.

É isso então pessoal. Mito quebrado! Espero que tenha sido de utilidade para a comunidade bugueira.

Abraços e vamos Bugueando!