domingo, 14 de fevereiro de 2010

Aproveitando o encejo....










Ainda no embalo dos bancos, que culminaram na modificação do Santo Antônio e em tantas outras modificações, agora chegou a vez da pintura.

De tanto bota e tira de banco, soldas, e entra e sai do carro a pintura sofreu bastante e estava merecendo uma "guaribada" antes de o carro ficar decente o bastante para poder combinar com o visual das novas bancadas.

Pois é! Escutei uma vez um ditado que se encaixa nessa minha peleja que diz assim: "É bobeira cagar e se limpar com canjica." Portanto, vamos ter que pintar esse carro. E já que vamos pintar, que tal implantar aqueles velhos projetos, hein!? É aí que mora o perigo.

Quem sofre desse vício como eu sabe que, ao iniciar um serviço, o maior perigo são "as coisinhas". E é mesmo! O cara começa a mudar uma coisa, e aí, já no embalo da empreitada, lembra-se daquela "coisainha" que também queria fazer e pensa: "Porque não? Vamos aproveitar logo." Seria ótimo se isso fosse fácil. O problema inerente a isso é que você nunca termina nada. As idéias vão aparecendo, e uma soa melhor que a outra. Se o camarada não focar num objetivo só, não para de "bulir" nunca.

Voltando ao ponto chave da questão, já que vou pintar mesmo, que tal fazer aquelas entradas de ar tão planejadas? Desde a época que fiz o último motor (e já fazem uns 3 anos), pus um radiador de óleo na parte traseira do carro contrariando a todos que sempre colocavam na frente. Sempre achei que na frente o radiador ficava muito vulnerável, sobretudo quando fica no pára-choque. Portanto, decidi colocá-lo na parte de trás. Só que a idéia era abrir uma entrada de ar na parte traseira e botar o radiador pra funcionar com ela, e o tempo passou, passou e nada de entrada de ar. Bem! Já que vamos pintar, então vamos fazer essas danadas!

A partir de um molde em PVC gentilmente cedido pelo meu amigo Taher, modifiquei a altura e ligeiramente o formato da parte de trás da peça pra caber na parte superior traseira do carro, justamente em cima do motor onde fica o radiador e o filtro de óleo. Construí as peças em fibra, dei acabamento e instalei antes da pintura. Fiz várias furações com uma broca de 1/2 polegada sob cada entrada pra permitir a ventilação e pus no lugar. Ufa! Agora é pintar.

Na estrada o óleo do motor estava dando mais de 100 graus, principalmente em viagens longas. Não pude testar ainda pra ver se a melhoria é grande, mas estou ansioso pra verificar a temperatura.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

10 Anos de Buggy

Ainda na época da adolescência, já quase um rapaz, via um buggy passando na rua. Aquilo pra mim era como uma tortura. Lembre-me que a vontade de pilotar um era enorme, e sem poder eu babava de inveja. A primeira coisa que me vinha em mente quando pensava no meu primeiro carro era sem dúvida: o buggy.
Uns dizem que aquilo que se deseja se materializa mais cedo ou mais tarde. Dizem que é a energia dos pensamentos que move o universo e o mundo que nos rodeia. Bem! Sendo ou não sendo verdade, acontece que aconteceu mesmo. Meu primeiro carro foi realmente um buggy, e ele continua comigo após dez longos anos.
Meados de 1999 havia um buggy, sucateado, largado e esquecido no interior do sertão da Paraíba, mais precisamente em Várzea, cidadezinha próxima de Caicó/RN. Estava largado no terreno da casa do meu velho. Motor cansado, vazando. Elétrica estragada, pneus carecas e cano furado. A bancada, oxe!? Que bancada? Dava pena. Nunca tinha visto uma pintura mais feia na minha vida. Agrrr#$%”! No entanto, apesar de tudo meus olhos brilharam ao ver aquela cena. Acendeu aquela lampadinha no juízo, que nem desenho animado: Plim-Plom! Oportunidade a vista! (Foto: Estado inicial do carro.)

“E essa sucata aí?” – indaguei ao coroa. “Tá largado ai, recebi numa conta e usei até acabar carregando pedra na serra. Acabou-se. Não tem nem documento nem recibo. Nem sei qual é o dono registrado no DETRAN.” – respondeu ele. E parecendo reflexo instintivo, que nem quando você se curva levando uma bolada nos ovos eu disse: “Me dá ele?”.
Essas três palavras ecoaram no pensamento dele por alguns instantes, e parecendo descrente de que eu teria coragem de levá-lo respondeu: “Você não tem nem carteira. Mas quando você tirar a carteira pode vir pegar.” Naquele instante contendo a alegria de estudante universitário liso, que comia de PF no centro de convivência ainda e ia pra faculdade de bicicleta pra economizar a passagem disse: “Eu venho mesmo.” Ainda descrente de que eu tivesse coragem ele respondeu: “Pode vir.”
Vim embora às pressas pra Natal com uma só coisa em mente: eu tinha uma missão. Missão dada, missão cumprida! Tinha que tirar a carteira pra buscar aquele carro.
Trinta de Dezembro de 1999, na época com 19 anos, acabara de receber a carteira de motorista que ainda tinha estampada na frente a palavra “Permissão”. Tinha até vergonha de mostrar aos colegas aquilo, pois muitos que já tinha tirado a carteira aos dezoito já nem sabiam mais o que era isso. Comprei a passagem e fui embora buscar aquilo que seria o meu buggy hoje.
“Opa! Tudo bem? To por aqui.” – disse eu ao velho. “Diga as novidades de Natal.” – perguntou-me. “A novidade boa está aqui.” – falei mostrando-lhe minha permissão pra dirigir (agrrr!). Ele esbugalhou os olhos e falou espantado: “Opa! Parabéns! Está de carteira agora.”. Respondi prontamente: “Vim pegar o buggy que me prometeste outro dia. Lembra?”. “Aquele buggy? Mas está todo quebrado. Tá maluco?” – perguntou ele assustado. E ainda sim, sabendo que estava maluco mesmo respondi: “Nada. Dou um jeito nele.”. “E como vai passar nas três rodoviárias federais daqui pra Natal?” – perguntou-me. E para mim que já tinha pensado em tudo durante a viagem, essa era fácil, já tinha todas as respostas na ponta da língua: “Vou de madrugada.” – respondi rapidamente.
Encurtando a história, depois daquele momento foram dois dias até que pudesse montar o carro e deixá-lo em estado razoável pra poder viajar. É engraçado como certas memórias permanecem fortes na nossa mente. Lembro-me perfeitamente que no quintal da casa havia um pé de algaroba de sombra boa. Encostei-o ali em baixo e pus-me a emendar fio, trocar lâmpada, parafusar banco. Soldei o cano de escape, botei óleo no motor e vamos. Foi aí que começou minha paixão por mexer, alterar, dar um jeito, enfim: passo horas nesse carro mexendo, mexendo e mexendo, e não vejo o tempo passar. Já me acostumei até com o olhar de espanto do povo que passa e olha como quem está pensando: “Lá está o doido.” (Foto: Dezembro de 2001, fazendo o motor do carro na área de casa).
Por volta da uma e meia da madrugada, do dia 02 de Janeiro de 2000, enquanto todos ainda estavam espantados porque o mundo não havia acabado no “réveillon” do ano 2000, lá estava eu partindo da Paraíba pra enfrentar 285 km de BR até Natal. Ali por entre as serras do sertão potiguar, de buggy pela madrugada adentro, disputei espaço com as carretas na estrada e enfrentei um dos frios mais cortantes da minha vida. Lembro-me ainda de detalhes da viagem que fiz há dez anos. Estava eu com duas camisetas e uma bermuda, e com uma calça e uma jaqueta jeans por cima. Passei por três rodoviárias federais e não tinha um guarda de pé, cheguei em Natal depois de seis horas de viagem.
Já em Natal, longos quatro anos se passaram, e sozinho, continuava a cultivar minha empolgação, que logo virou hobby e depois paixão. Na verdade, não consegui até hoje encontrar, a pesar de muito procurar, uma atividade que me proporcionasse ainda que uma fração do prazer e satisfação que andar neste buggy me dá. Quem já teve oportunidade e sentiu a sensação de sentar ao volante deste carro, dar partida e ouvir o ronco do motor não esquece. Quem sem capota e com emoção sentiu o vento no rosto a beira mar, e viu como no num passe de mágica seu estresse acabar não se engana. Como esquecer a sensação de privilégio e liberdade de manobrar em meio as dunas ao entardecer? (Foto: 1º dia após a primeira pintura)
E estando um belo dia, só eu e a excelentíssima, a desbravar o litoral sul do estado no meu buggy a caminho da divisa do RN com a Paraíba, entre a praia de Sagi e o rio Guajú, olhei para os lados e não havia ninguém. A maré estava enchendo e já no final da tarde o sol se escondia. Nem um sinal de civilização, nada. Nenhum carro a me acompanhar. Nesse momento em meio a um frio na espinha me veio à sensação de certeza verdadeira: “Você não tem juízo.” – pensei. Ao mesmo tempo no mesmo fio de pensamento surgiu a dúvida: “Será que há também gente assim como eu?”.
E foi assim que surgiu o Buggy Club RN.